18.9.06

A Morte - por Pedro Bial

(Sei lá se o texto é realmente dele, mas recebi por e-mail, e me emocionou. Estou me sentindo meio viúva, hoje...)

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos.
Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada.
Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.
Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que e causa em todos os que ficam.
A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.
Você combinou de jantar com a namorada,está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre.
Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?
Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco?
Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente.
Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente...
De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis.
Qual é? Morrer é um chiste.
Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas.
Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas , mulheres e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?
Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo.
Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz.
Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero.
E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.
Por isso viva tudo que há para viver.
Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida...
Perdoe....sempre!!!

12 comentários:

Anônimo disse...

Não penso na morte, pois sei que virá independente de todos os meus cuidados e contra a minha vontade. E, ainda por cima, seja quando for, não virá na hora certa. Realmente, não me estresso com coisas pequenas. Não vale a pena.

Kafé Roceiro disse...

Recebi por e-mail! Bunito demais...

Dono do Bar disse...

Tema complicado, minha amiga. Quem já bateu com ela de frente (e voltou pra contar, como eu) sabe o quanto é difícil. A morte, o fim, o reinício, tantas definições e um só sentimento para quem fica: A PERDA. E é tão difícil lidar com isso.
Beijo, amiga. Tenha uma ótima semana.

DB

Feliz disse...

tá perdoada.

Anônimo disse...

Ana, a morte é algo muito presente pra mim, muito comum, venho de família Espiritualista então não acho o fim do mundo, simplesmente pq pra mim a vida não acaba ali, é claro que eu quero ver o meu filho crescer, ter uma menina, pular de pára-quedas, comprar um sítio, ter a certeza de que vivi o suficiente pra estragar os meus netos....rs!
Enfim, quero curtir muito a minha VIDA pra depois da morte, ter a sensação de dever cumprido!
Beijos!

Anônimo disse...

A grande verdade é que "todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer",rsrsrs, Bjks.Perdeu um festão...

Anônimo disse...

O texto é realmente bonito,ANA. Sendo dele ou não. Otima semana a vc. Beijão!!

Anônimo disse...

ná carla...
eu ando andando tão corrido que ando sem tempo pra parar...
mudanças mocinha...mudanças...
mas tenho saudade e logo volto direito
beijo

Ricardo Rayol disse...

Penso na morte sim, em como seriam as coisas depois. Fico preocupado se tenho que me preocupar com o que ficou aqui lá do além-tumulo. Mas enfim, o negócio então é mulheres, sexo, drogas e rock and roll? Que Deus me perdoe :-)

A propósito, Peço sua ajuda na divulgação de uma palhaçada que está rolando em plagas Rio Grandenses. Miores informações com o proteiro lá de casa

Ana Carla disse...

Lili, não é estress... e também não fico pensando nisso. Mas as perdas doem.


Não é mesmo, Kafé?


Senhor Dono do Bar, então já visitou o Hades e voltou, como eu? Não conheço essa sua história, precisa me contar. Talvez estejamos na mesma margem do rio. Um beijão. Saudade!


Leão, já cheguei perto do fim e recomecei, hehehe...


Obrigada, Tiago!! você é tão... aiai(suspirando)... tudo de bom!! hehehe...


Sheila... melhor nem pensar. Eu temo a dor, e não a morte. E lamento, egoisticamente, as perdas.


Armando, pois é, rs... a gente só quer "gemer sem sentir dor", né? rsrs...


DO, boa semana pra vc, também!!


Valéria, que a primavera venha cheia de boas mudanças, então! Eu espero vc, não demore...


Ricardo, postado está!! Beijão!!

Marco disse...

O texto é lindo. Mas não penso em morrer tão cedo. Pelas previsões feitas por adivinhos, vou morrer aos 123 anos, na cama, ao lado de uma mulher, por um tiro dado pelo marido dela.
Beijos!

Ana Carla disse...

Huummm... minhas revisões dizem que eu rezarei no seu velório!! Hehehe... Beijão, Marco!!