16.1.07

DRA. ROSA x ADRIANE GALISTEU

Recebi este texto por e-mail do meu ídolo Marco, do Antigas Ternuras. Aliás, o Marco já está virando sócio benemérito aqui do pedaço, hehehe...

Crônica : Arnaldo Jabor

Será que a opinião pública está tão interessada assim na visão
que Narcisa Tamborindeguy ou Adriane Galisteu têm da vida? A julgar pelo
espaço que a mídia dedica a esse tipo de formador (?????) de opinião, o
Brasil virou um imenso Castelo de Caras. Adriane Galisteu, após o seu
casamento relâmpago, falou às páginas amarelas de "Veja" e deu aula magna de
insensibilidade, egoísmo e...sinceridade!
Estranha mistura, mas a moça tem razão quando se diz sincera. Ela não
engana, revela-se de corpo (e que corpo!) inteiro, e o retrato que aparece é
assustador! Adriane teve uma infância atribulada, perdeu o pai aos 15 anos,
ainda pobre, e um irmão com AIDS quando já não era tão pobre. "Eu não tinha
um tostão, não tinha dinheiro para comprar um pastel. Meu irmão estava
doente. Minha mãe ganhava 190 reais do INSS, meu pai já tinha morrido. Eu
sustentava todo mundo e não tinha poupança alguma".
Peço licença a Adriane, mas vou falar de outra infância triste de
mulher, a de Rosa Célia Barbosa. Seu perfil - admirável - surgiu em recente
reportagem da "Vejinha" sobre os melhores médicos do Rio de Janeiro.
Alagoana, pequena, 1m50cm, começou a sua odisséia aos sete anos. Largada num
orfanato em Botafogo, Rosa Célia chorou durante meses. "Toda a mulher de
saia eu achava
que era a minha mãe que vinha me buscar. Depois de um tempo, desisti.".
Voltemos a Adriane Galisteu. Ela é rica, bem sucedida, e "nem na metade da
escada ainda". A escada, não deixa de ser uma boa imagem para alguém que -
como uma verdadeira Scarlet O´Hara de tempos neoliberais (muito mais neo que
liberais) - resolveu que nunca mais vai passar fome. Até aí, tudo bem; mas é
desconcertante ver como o sofrimento pode levar à total insensibilidade.
Pergunta da repórter a Adriane se ela faria algo para o bem do outro:
"Para o bem do outro? Não, só faço pelo meu bem. Essa coisa de dar sem
cobrar, dar sem pedir, não existe. Depois, você acaba jogando isso na cara
do outro." (N.R. Ayrton Senna, que a Galisteu conheceu muito bem, fazia caridade e não "jogava na cara" de ninguém. Só descobriram as bondades que fazia depois que ele morreu)
"Você nunca cede, então?" "Cedo, claro que cedo. Já cedi em coisas que não
afetam a minha vida. Ele gosta de dormir em lençol de linho e eu gosto de
dormir em lençol de seda. Aí dá para ceder..."
Rosa Célia fez vestibular de medicina quando morava de favor num
quartinho e trabalhava para manter-se. Formou-se e resolveu dedicar-se à
cardiologia neonatal e infantil, quando trabalhava no Hospital da Lagoa. Sem
saber inglês, meteu na cabeça que teria que estudar no National Heart
Hospital, em Londres, com Jane Sommerville, a maior especialista mundial no
assunto.
Estudou inglês e conseguiu uma bolsa e uma carta da Dra. Sommerville. Em
Londres, era gozada pelos colegas ingleses por causa de seu inglês jeca.
Ganhou o respeito geral quando acertou um diagnóstico difícil numa paciente
escocesa, após examiná-la por oito horas seguidas. "Ela falava um inglês
ainda pior do que o meu", lembra Rosa Célia divertida.
Adriane Galisteu está rica, mas não confia em ninguém, salvo na mãe.
Nem nos amigos. Vejam: "Eu não posso sair confiando nas pessoas". Não tenho
motorista, nem segurança, por isso mesmo. É mais gente para te trair Eu
confio mais nos bichos do que nas pessoas. Ainda existem pessoas que acham
que eu tenho amnésia. Muitas das que convivem comigo hoje já me viraram a
cara quando estava por baixo. Mas você pensa que eu as trato mal? Trato com
a maior naturalidade. Porque elas podem até me usar, mas eu vou usá-las
também. "É uma troca."
De Londres, Rosa Célia iria direto para Houston, nos Estados Unidos. Fora
escolhida e convidada para a Meca da cardiologia mundial. Futuro brilhante a
aguardava. Uma gravidez inesperada atrapalhou o sonho. Pediu 24 horas para
pensar e optou pelo filho, voltando ao Rio de Janeiro. Reassumiu seu cargo
no Hospital da Lagoa e abriu consultório. Mas todo ano viaja para estudar.
Passa no mínimo um mês no Children´s Hospital, em Boston, trabalhando 12
horas por dia. "Você gosta de dinheiro, (Adriane)?" "Adoro dinheiro e
detesto hipocrisia".
Gasto, gosto de gastar, gosto de não fazer conta, de viajar de primeira
classe. Tem gente que fala: esse dinheiro que ganhei eu vou doar... O meu eu
não dôo não. O meu eu dôo é para a minha conta. Eu adoro fazer o bem, mas
também tenho minhas prioridades: minha casa, minha família. Primeiro vou
ajudar quem está mais próximo. "Mas faço minhas campanhas beneficentes."
Rosa Célia atualmente chefia um sofisticadíssimo centro cardiológico, o
Pró-Cardíaco. Lá são tratados casos limite, histórias tristes. O hospital é
privado e caríssimo, mas ela achou um jeito de operar ali crianças sem
posses. Criou uma ONG, passa o chapéu, fala com amigos e com empresários. O
seu Projeto Pró-Criança já atendeu mais de 500, e 120 foram operadas. Sonhei
a vida inteira e fiz. Não importou ser pobre, mulher, baixinha, alagoana.
Eu fiz."
Voltemos a Adriane Galisteu e esbarraremos, brutalmente, na
frustração. Já tive vontade de viajar e não podia. Queria ter um carro e não
tinha. Queria ter feito uma faculdade e não tive Dinheiro. Não que eu sinta
falta de livros, porque livro a gente compra na esquina, e conhecimento a
gente adquire na vida. Eu sinto falta é de contar para os amigos essas
histórias que todo mundo tem, do tempo da faculdade.
Duas vidas, dois perfis fora da normalidade, matéria-prima para os
órgãos de imprensa. Mas qual é a mais valorizada pela mídia hoje em dia? É
fácil constatar e chegar à conclusão de que há algo muito errado com a nossa
sociedade. Pode ser até que o leitor tenha interesse mórbido em saber o que
as louras e morenas burras ou muito espertas andam fazendo, mas a mídia não
deve limitar-se a refletir e a conformar-se com a mediocridade, o vazio, o
oportunismo e a falta de ética. Os órgãos de imprensa devem ter um papel
transformador na sociedade e, nesse sentido, estaríamos melhor servidos se
houvesse mais Rosas Célias nos jornais, nas revistas e TVs que nos cercam.
Voltando ao Castelo de Caras, as belas Adrianes, Narcisas, Lucianas,
Suzanas ou Carlas, certamente encontrarão lá um espelho mágico... Se for
mesmo mágico dirá que Rosa Célia é mais bela do que todas vocês
(Também é do Marco o recado: Se você gostou, caro Amigo, divulgue. Vamos multiplicar e fazer a nossa parte num programa de Fome Zero de Cultura.)

5 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Grande texto, Jabor é ótimo! Parabéns a você e ao Marco por divulgarem e fazerem sua parte.
Beijo!

Dono do Bar disse...

Pois é, cara amiga, temos que separar o joio do trigo, sob pena de virarmos macacas de auditório de pessoas coma a Adriani Galisteu, que subiu na vida graças a morte do Senna, antes disso, bem, você mesmo leu o que ela era. E salve as Rosas, que como elas existem milhares nesse país, sempre redimindo a imagem do povo brasileiro, feito muito mais de rosas do que adrianis.

Beijo naquele lugar, perto dos lábios...(a bochecha, né)

DB.

Anônimo disse...

Pois é...bora divulgar!
lindo dia querida
beijosssssssssss

Sheherazade disse...

O mais bizarro disso é que a música que abre o programa televisivo de Adriane diz: "... nem toda brasileira é bunda ..." Seria um reconhecimento à raça da outra, a Rosa Célia? Oxalá a loira tivesse esse senso de auto-crítica!
Eu já conhecia o texto e, embora não seja muito fã de Jabor, reconheço que, neste caso, ele foi muito feliz.

Beijão, amiga!

Naeno disse...

Acho que o Arnaldo Jabor nesta, ele pisou fora da calçada. Digo eu quem está interessado em saber quem se interessa pelo que interessa as duas pé de chinelo. E ainda vacilou mais ainda quando interrogou, na dúvida se eleas eram formadoras de opinião. Na minha opinião elas são informadoras de opiniões alheias.
Nada mais, existem milhares de mulheres deste tipo no Brasil que estão nos levando no bico. Se bem que é preferível levar no bico no que levar o bico à boca.

Um beijo

Naeno