27.8.06

Contra a violência e pela reforma da segurança pública e reforma prisional





Mensagem dos Bispos da Província de São Paulo

Caros irmãos e irmãs de nossas dioceses, paróquias e comunidades!

A Paz de Cristo esteja convosco! Desde maio passado, o nosso Estado de São Paulo, principalmente as cidades da Grande São Paulo e arredores, foram vítimas de numerosos e violentos ataques por parte do crime organizado, primeiro contra as forças de segurança do Estado e depois também contra a sociedade civil e suas instituições. As polícias do Estado reagiram em sua própria defesa e em defesa dos cidadãos. Não podemos deixar de apoiar as ações da polícia em favor da segurança, que é direito do cidadão. Contudo, daí resultaram muitos feridos e mortos brutalmente, de ambos os lados, entre os quais, segundo diversas denúncias, também inocentes. Por isso, com razão, está em curso uma investigação ampla por parte do Poder Público para apurar e punir todo tipo de crime, que tenha ocorrido. Não podemos deixar de assinalar que os ataques do crime organizado continham também ingredientes de terrorismo, ou seja, tentativas de aterrorizar a sociedade, atacando civis inocentes, instituições e serviços públicos, incendiando ônibus, seqüestrando jornalistas para extorquir a publicação de manifesto.

Diante destes fatos, queremos primeiro dizer que repudiamos toda esta violência desencadeada pelo crime organizado e suas causas profundas. Rezamos e nos solidarizamos com todas as pessoas e famílias, de ambos os lados do conflito, que sofreram violência ou tiveram pessoas inocentes assassinadas dentre seus familiares, parentes ou amigos.

Em segundo lugar, queremos declarar que:

1. É preciso repudiar vigorosamente e sempre todo tipo de violência, venha de onde vier. Violência só gera violência e destrói a paz.

2. É preciso construir incansavelmente a paz. Diz São Paulo: "Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem" (Rm 12,21). É preciso educar para uma cultura de paz e nesta educação tem papel importante a família, a escola, a Igreja e os grandes meios de comunicação. Disse Jesus: "Bem-aventurados os que promovem a paz" (Mt 5,9).

3. É preciso rezar pela paz, pois a paz é também graça de Deus, que contudo exige nossa colaboração, pois somos responsáveis pela construção da nossa história e a transformação de nossa sociedade, segundo os critérios do Reino de Deus. Os anjos cantaram na noite de Natal: "Paz na terra aos homens que Deus ama", aos homens de boa vontade (Lc 2,14).

4. Além disso, precisamos exigir do Poder Público, entre outras reformas, a Reforma da Segurança Pública. Isso requer investir mais em qualificar e aparelhar nossas polícias e dar-lhes uma remuneração mais justa. Requer também investir muito e com urgência na organização de um qualificado e amplo Serviço de Inteligência das forças de segurança pública para combater a criminalidade e, principalmente, o crime organizado.

5. Ao mesmo tempo, é urgente exigir também a Reforma Prisional. Vale lembrar que o Estado de São Paulo é o Estado que, proporcionalmente, mais prende criminosos. Isso é bom, porque os delinqüentes precisam ser detidos, julgados, punidos e recuperados. Contudo, para colocar todos na prisão seria necessário que o Estado construísse uma nova prisão cada mês. Isso demonstra que há algo de profundamente errado. Se olharmos mais de perto a situação, veremos que há diversas reformas que deveriam ser feitas. Primeiro, os que foram detidos precisam ser julgados mais rapidamente para que possam sair da detenção os que forem absolvidos. Os que forem condenados certamente não precisam todos pagar sua pena na prisão. Na opinião de muitos peritos na área, mais da metade poderia pagar seu crime com penas alternativas fora da prisão. Desse modo, além de diminuir a superlotação das prisões, se evitaria que tantos entrassem na escola do crime em que se transformaram nossas prisões e se filiassem ao crime organizado. Além disso, hoje há milhares de presos que já cumpriram sua pena, mas continuam presos por falta de defensores públicos e lentidão da justiça em liberar os alvarás de soltura ou promover a progressão da pena. Além disso, há urgente necessidade de humanizar as prisões. As condições desumanas e injustas em que vivem os presos constituem um dos fatores do fortalecimento do crime organizado, das rebeliões, dos assassinatos dentro das prisões e tantos outros males que mostram como nosso sistema penitenciário é altamente deteriorado e muitas vezes cruelmente injusto. Na realidade, a verdadeira paz é "obra da justiça" (Is 32,17).

Caros irmãos e irmãs! Diante dos ataques violentos do crime organizado em São Paulo, a sociedade não pode aceitar o medo e tornar-se refém dos criminosos. É preciso continuar a vida normal, ainda que tomando novos cuidados para não ser alcançado pela criminalidade. Ao mesmo tempo, precisamos procurar e arrancar pela raiz as causas profundas que estão na origem da organização do crime, de seus intentos e métodos. Precisamos exigir do Poder Público as reformas necessárias. Precisamos ser mais solidários com os pobres combatendo a miséria, a fome e a marginalização social, que constituem uma enorme injustiça social e até mesmo levam pessoas a buscar ajuda junto ao mundo do crime. Precisamos viver e propor com mais clareza e eficiência os valores éticos, espirituais e religiosos, cuja perda causou e causa enorme prejuízo para as famílias, a juventude e a sociedade em geral.

Peçamos a Deus o dom da paz! Jesus Cristo, o Príncipe da Paz, nos ensina o caminho da construção da paz, que é fruto da justiça, do direito, do respeito pelos outros, do diálogo, do perdão mútuo, da colaboração. Ele nos disse: "Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros" (Jo 13,34). Não nos cansemos de amar, praticar a justiça e o direito, perdoar e fazer o bem. Então, a paz encontrará fundamentos duradouros. Deus nos abençoe a todos e nos guarde de todo mal! Nossa Senhora Rainha da Paz interceda por nós!

São Paulo, 15 de agosto de 2006.

Assinam os Bispos da Província Eclesiástica de São Paulo:
- Cardeal Dom Cláudio Hummes, Arcebispo Metropolitano de São Paulo - Dom Nelson Westrupp, Bispo de Santo André e Presidente da CNBB Sul 1 - Dom Emílio Pignoli, Bispo de Campo Limpo - Dom Fernando Legal, Bispo de São Miguel Paulista - Dom Fernando Antonio Figueiredo, Bispo de Santo Amaro - Dom Ercílio Turco, Bispo de Osasco - Dom Luiz Bergonzini, Bispo de Guarulhos - Dom Jacyr Francisco Braido, Bispo de Santos - Dom Airton José dos Santos, Bispo de Mogi das Cruzes - Dom Odilo Pedro Scherer, Bispo Auxiliar de São Paulo e Secretário Geral da CNBB - Dom Manuel Parrado Carral, Bispo Auxiliar de São Paulo - Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo Auxiliar de São Paulo - Dom José Benedito Simão, Bispo Auxiliar de São Paulo - Dom Tomé Ferreira da Silva, Bispo Auxiliar de São Paulo - Dom Joaquim Justino Carreira, Bispo Auxiliar de São Paulo - Dom João Mamede Filho, Bispo Auxiliar de São Paulo


Eu sei que somos aquele beija-flor com uma gota de água no bico, lutando contra o incêndio da floresta. Mas eu creio que nossa gota fará a diferença. Bom domingo!

11 comentários:

Anônimo disse...

Os parlamentares, para fazerem média com apopulação, tomaram algumas poucas e incipentes medidas quando da primeira série de ataques. Se aconteceram os segundos é sinal de que as medidas de afogadilho não surtiram qualquer efeito.
Necessários são uma reforma completa na Constituição Federam e um novo Código Penal, com penas mais duras, diminuiçã na idade penal, critérios mais sérios para que hajam benefícios de redução de pena e sursis, modernização da Justiça em suas diversas instâncias, inclusive com o aumento de juízes e promotores, para que haja celeridade nos processos, polícias melhor remuneradas, melhor equipadas e melhor treinadas. Aliás, essas medidas fazem-se necessárias há decadas, só não foram 9e talvez nunca sejam) feitas por total desinteresse e despreparo dos parlamentares e governantes.

Marco disse...

Acho que só vão tomar uma providência séria quando a desgraça já tiver muito grande e incontrolável. O que não vai demorar muito. Infelizmente...
Beijo e bom domingo procê também.

Marilyn disse...

Apesar de eu não seguir fervorosamente as doutrinas que a religião coloca, concordo com o texto. Eu e maiz *zilhões* de pessoas, todas preocupadas com seu bem estar, segurança e cidadania.
Muitas vezes, acho que a situação está fora de controle, mas sei que tudo é possível. Cada um fazendo sua parte, tendo respeito ao próximo, tolerância e boa vontade, pode-se chegar a um país melhor.
Beijo!

Marilyn disse...

Apesar de eu não seguir fervorosamente as doutrinas que a religião coloca, concordo com o texto. Eu e maiz *zilhões* de pessoas, todas preocupadas com seu bem estar, segurança e cidadania.
Muitas vezes, acho que a situação está fora de controle, mas sei que tudo é possível. Cada um fazendo sua parte, tendo respeito ao próximo, tolerância e boa vontade, pode-se chegar a um país melhor.
Beijo!

Anônimo disse...

Durante mt tempo esse pessoal acobertou bandidos e suas acoes em supostas defesas de seus direitos. S�o Paulo extrapolou e todo o Brasil , que segue o estado hegemonico, que nao sai da televisao, paga o pato.

Anônimo disse...

"Qualquer maneira de amor vale a pena!" Um beijo e ótima semana!

Feliz disse...

oxalá

Anônimo disse...

Sinceramente já perdi a paciência faz tempo.
No que dependesse de mim, o Marcola e seus parceiros já estariam fazendo companhia ao Diabo no Inferno.
Cheers

Anônimo disse...

Eu faço a minha parte e eles fazem?
Ando tão desanimada com os acontecimentos...:(
linda semana querida
beijossssssssssss muitos como gosta...

Kafé Roceiro disse...

Se cada um realmente fizesse sua parte...

Ana Carla disse...

É, pessoal... eu só acho que a gente precisa tentar. Esperança é a penúltima que morre. A última sou eu. Beijos pra todos!!