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12.8.06

FICÇÃO IX

- Ele é casado.
Foi assim que a mãe dela a recepcionou quando Ana chegava do primeiro encontro com José.
O súbito frio na espinha:
- Como você sabe?
E a resposta:
- Sabendo. Dá pra perceber que ele é casado.
Não era esse o problema, Ana respirou aliviada. José era negro. Ana era branquíssima, até azulada, de tão branca.
E a família de Ana era preconceituosa. Esse, sim, era o problema.
Ana conheceu José num curso de pipas e dobradura. Ele era o instrutor, funcionário de uma ONG ou Fundação Cultural, ou... ele não sabia ao certo, nem queria saber, simplesmente apaixonou-se!
E pelo que ele demonstrou nesse primeiro encontro, foi recíproco. Conversaram por horas, caminharam de mãos dadas madrugada inteira.
A profissão o obrigava a viajar muito, portanto o namoro demorou uns dois meses para decolar de vez.
Depois foram mais uns 7 ou 9 meses de relacionamento feito de encontros e despedidas.
O telefone passou a ser um companheirão!
- Estou em Porto Alegre, anote o telefone do hotel!
Ele era atencioso, gentil, educado, carinhoso... tratava Ana de um jeito especial e novo para ela.
- Querida, Vitória é linda! Quando a gente casar quero me mudar pra cá!
Ela seguia sua rotina entre os encontros, ouvindo “máximas” do tipo: “Esse homem não toma banho! Você sai com ele e volta pra casa impregnada com seu fedor!”.
- Porto Seguro. O hotel de sempre, você já tem o número, quarto 117.
- Vejo você em dois dias, Ana... estou morrendo de saudade!
Naquele tempo não havia celulares:
- Deixe a confirmação gravada na secretária eletrônica que eu busco você na rodoviária.
E os assuntos nos encontros de família foram ficando interessantes. Um tio afirmou com veemência que os índios americanos eram antropologicamente mais evoluídos do que as tribos africanas, e isso tinha relação com a cor da pele. E Ana sorria, complacente e apaixonada.
Ana sempre teve riso fácil. Choro também.
Um dia, uma mulher atendeu o telefone no ap. de José.
- Quem é ela?
- Minha irmã. Ela cuida de minha casa nas ausências mais prolongadas. Estou indo pra Campo Grande.
- Cheguei de Manaus com muita, muita saudade!! Antes de ir pra casa eu precisava ver você!!
Ana falou com a irmã de José ainda umas 2 ou 3 vezes, até que aquela voz macia e simpática perguntou:
- Qual a sua idade?
- 23 anos, por quê?
- Ana... não sei como lhe dizer isso sem magoá-la, mas eu sou a esposa do José. Ele é casado.

14 comentários:

  1. Anônimo9:06 PM

    Puxa vida :(
    que triste e acontece tanto não é? Mãe raramente se engana..
    Lindo findi
    beijossssssss

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  2. Anônimo8:20 AM

    Faro de mãe é fogo, menina! Beijos!

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  3. Falta de caráter!
    Por que mentir?
    Mãe sabe das coisas! Beijão!

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  4. Anônimo7:42 PM

    Mais ficção, não é Carlinha?

    Com um enorme traço de realidade...

    :) Beijão.

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  5. Claudinha... mãe sabe, mas mãe também erra. E falta de caráter não tem perdão.

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  6. Chefinho Ordisi... a vida da gente é repleta de ficção, vc não concorda?? Beijos!!

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  7. Ficção? Jamais! Claro que é verdadeira. Tenho certeza ABSOLUTA de que se trata de uma passagem da vida de alguém. Ou até mesmo da Ana.

    Gente, se fosse ficção, a história teria monstros, ETs ou naves espaciais!

    Beijo, Ana.

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  8. *Tipo* entendi & não entendi, mas tudo bem... tô caindo de sono.
    Olha só, você me perguntou como responder aos comentários aqui no Blogspot... então, você usando o Blogger como contato, é nele mesmo, como se você fosse comentar em teu próprio blog. Mas uso o Haloscan.
    Dá uma olhada no site, faz o cadastro e pronto, te passo o comando.
    Beijo! ;)

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  9. Caraco... As mães realmente sabem das coisas...
    Mas fiquei embatucado com a postura da esposa de José. Ela não fez barraco, não tratou mal... Quase deixou uma brecha para a gente imaginar que poderia sim, ser apenas a irmã dele e que estivesse tentando afastá-la dele. Ou dele dela.
    Beijo. Boa história.

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  10. Anônimo2:49 PM

    Oi Ana, obrigada pelas palavras!!!
    Já tá tudo postado, fotos...etc!
    Eu achei seu conto bem legal, e esta esposa foi bem meiga viu!
    Beijos!

    PS> Carlinhos pediu pra avisar que posta novo texto hj à noite!
    Beijos

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  11. Anônimo6:15 PM

    Ana Carlinha Pingüinha. Aquele site "oculto" não está ativo. Não dou conta de tocar um, imagine mais...

    Mas valeu o carinho. Beijos.

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  12. Anônimo9:57 PM

    Olá, vi seu último comentário.
    Em vez de publicar um texto novo, resolvi contar como me senti, depois passa lá pra ver!
    Abraço!

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